Manifesto - 01 –
Hoje eu morro!
Morro de tédio e de cansaço,
Morro sem finalidade, vulgarmente,
Morro, como morre qualquer cidadão,
De subnutrição, enfarte, diarréia,
Desastre de automóvel ou suicídio.
Morro e deixo aos meus filhos,
Um conselho, um grito de alerta.
Cada semelhante é um concorrente,
Os obstáculos são muitos,
As armadilhas aí estão!
Atenção:
-O MUNDO É UM PERIGO!!!
Deixo à minha mulher,
Um beijo de saudade,
Um verso de amor,
Uma flor murcha em cima da mesa
E nada mais, que nada mais tenho para oferecer...
Aos meus desafetos, aos invejosos,
Aos meus inimigos vulgares
Deixo o polegar e o indicador,
Unidos, formando um círculo,
Que aos meus inimigos
Realmente grandes e inteligentes,
Deixo o meu profundo respeito.
Deixo às putas da ex-zona do Mangue,
Os meus culhões como protesto
Ás obras do metrô e à doença venérea.
Aos ladrões que são muitos
Deixo o meu imenso medo.
Medo do escuro, das vielas desertas,
Das armas de fogo, das navalhas.
À democracia deixo a minha dúvida,
Ao comunismo a minha desconfiança,
Ao capitalismo deixo minha carteira
Vazia, as minhas promissórias,
Meus títulos protestados.
Ao governo deixo o meu cansaço,
Minha desesperança, minha miséria,
Minha frustração...
Hoje eu morro!
Morro de vergonha, de impotência,
De tédio, de falta de perspectiva,
E o céu está tão azul, tão limpo!..
Hoje eu morro!
Morro e deixo aos amigos, um abraço,
Á minha mãe o meu carinho,
Ao meu pai eu nada deixo,
Nem cobro o que me é devido.
Ao mundo deixo meus versos
Cheirando a naftalina,
Impregnados do mofo das gavetas,
Perdidos por aí nos ”Sebos”,
Nas prateleiras sujas,
Nas latas de lixo
Até que as traças os consumam.
À Deus. Se Deus existe,
Deixo meu coração,
Que a alma é livre
E seu destino incerto...
Enfim, eu morro!
Sérgio B. Moreira - 15/04/1978
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